A fila de espera por uma cadeira de rodas no Brasil é um dos maiores problemas enfrentados hoje pelo brasileiro com deficiência. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), apontam que só no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas precisam de uma cadeira de rodas para se locomover, mas apenas 10% consegue ter acesso ao equipamento fornecido pelo SUS.
Para mudar estes números desanimadores, o Instituto Mara Gabrilli, em parceria com a Revista Vida Simples, título da Editora Caras, lançaram no final de 2016, a Campanha Roda Gigante. O objetivo da ação foi angariar, através do site de financiamento coletivo Kickante, doações em dinheiro para a aquisição de cadeiras de rodas, adaptações e outros tipos de órteses que uma pessoa com deficiência precisa para se locomover e viver com dignidade. As doações aconteceram até o ano passado e a campanha conseguiu arrecadar o valor líquido de R$ 44.327,66.
A escolha e realidade dos contemplados
Após receber o valor das doações em março de 2017, o Instituto Mara Gabrilli realizou mutirões para selecionar os contemplados e fazer a adequação postural dos equipamentos. Os critérios para escolha dos felizardos foram os mais justos possíveis: condição socioeconômica, comprometimento motor grave e de saúde, inclusão social e estar inscrito na fila única do SUS. Já para a realização do orçamento e escolha do fornecedor, o IMG considerou os seguintes critérios: qualidade, custo e prazo de entrega. No total, onze pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade social foram escolhidas e contempladas com os equipamentos – todos adequados para sua idade e necessidade específica.
Confira abaixo a história de algumas delas
Maria dos Santos Silva, de 88 anos, fraturou o fêmur por conta de problemas decorrentes da idade. Ela reside em um lar de acolhimento. A pessoa mais próxima de sua família é a única filha, que tem deficiência. Antes de receber a cadeira de rodas da campanha, ela passava o dia todo na cama.
Realidade parecida a de Sueli de Fátima Silva, 58, que sofre de fortes sequelas de um AVC. Ela, que também reside em um lar de acolhimento para pessoas com deficiências, passava todos os seus dias deitada em uma cama.
Natasha Shayany dos Santos, 19, tem paralisia cerebral e escoliose. Antes de ser contemplada pela campanha, ela usava uma cadeira de rodas pequena e inadequada para a sua deficiência. Por conta do equipamento impróprio, seu comprometimento físico e saúde estavam piorando a cada dia.
Estephany Vitoria Queiroz sofre de Artogripose, uma doença congênita rara que se caracteriza por múltiplas contraturas articulares. Sofrendo de sérios comprometimentos causados pela doença, ela não consegue ficar na posição sentada e permanecia deitada de bruços em um equipamento inadequado que mantinha somente seu pescoço erguido. Ela recebeu uma cadeira motorizada que ela mesma pode conduzir. Além disso, com a adequação, ela consegue olhar tudo em um ângulo muito mais confortável.
Daniela Patrícia da Silva, 13, possui múltiplas deficiências e foi abandonada por sua família. Ela reside em uma Instituição que acolhe pacientes graves e até então não tinha nenhuma cadeira de rodas para se locomover.
A pequena Gabriela Dias, de apenas 5 anos, tem paralisia cerebral e mielomeningocele. Até então, era transportada em carrinhos de bebês, pois nunca tinha tido uma cadeira de rodas. Agora com mais independência para sua locomoção, ela pode realizar todas as atividades propostas em sua escola e ainda socializar com as demais crianças.
Mirlene Nascimento Santos, 39, também apresenta sequelas de um AVC. Ela dependia de uma cadeiras de rodas para sua adequação postural, inclusive para sustentar o pescoço. Com o equipamento que ganhou ela pode fazer o que quiser, inclusive sair da cama e de casa, algo que até então não acontecia.
Allison Vitor de Siqueira, 19, tem paralisia cerebral e escoliose. Com sua cadeira inadequada e muito pequena, seu estado de saúde prejudicava a cada dia. Com o equipamento novo, Alison ganhou mais independência, qualidade de vida e agilidade para frequentar a escola da APAE em Santo Andre onde é aluno.
Williane Vidas Lopes, estava fora da escola, pois não tinha uma cadeira de rodas. Com o novo equipamento ela poderá voltar à escola e ter mais qualidade de vida. Sua família, em especial sua mãe, declara melhores condições para os cuidados com ela.
Bruno Gabriel dos Santos, 20, tem síndrome de Sotos, Autismo e Epilepsia Refratária. Bruno é bolsista de uma instituição especializada que trabalha com o método de pedagogia Waldorf. Com a cadeira que recebeu, ele melhorou muito sua mobilidade para realizar as tarefas que precisa. Seu equipamento foi adaptado com uma bandeja que lhe permite realizar tarefas, além das tarefas na escola, sua alimentação.
A importância da adaptação de uma cadeira de rodas
Muita gente não sabe, mas a necessidade de uma pessoa com deficiência vai muito além da cadeira de rodas em si. O equipamento que uma pessoa com paralisia cerebral precisa não servirá para alguém que tenha tetraplegia, por exemplo. A estatura, peso e idade também fazem diferença para o tipo de cadeira. Uma criança precisa de banco e encosto para o tamanho de seu corpo até uma certa idade. Com o passar do tempo, ela crescerá e a cadeira já não servirá mais. Ou seja, quanto mais personalizado for este equipamento, maior mobilidade e conforto a pessoa terá.
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